A Secretaria Especial da Cultura informou, por meio de sua assessoria
de imprensa, que o secretário Roberto Alvim foi demitido do cargo. A
exoneração acontece após Alvim parafrasear um discurso de Joseph
Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista.
Na manhã
desta sexta (17), o Planalto havia avisado o Congresso que secretário
seria demitido após a repercussão do caso nas redes sociais e a
manifestação pública da classe política. Entre os que pediram a saída de
Alvim estão o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado,
Davi Alcolumbre (DEM-AP), além do ministro do Supremo Tribunal Federal
Dias Toffoli.
“O
secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O
governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo”, afirmou Maia nas
redes sociais. Já Alcolumbre, que é judeu, qualificou em nota o
discurso de Alvim de “acintoso, descabido e infeliz”. E Toffoli disse
que a fala foi “uma ofensa ao povo brasileiro”.
Outros que
repudiaram o discurso foram o presidente nacional da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, e o apresentador Luciano Huck,
cotado para lançar candidatura à Presidência.
Já a Presidência
decidiu não se pronunciar sobre o episódio. “O próprio (Alvim) já se
manifestou oficialmente. O Planalto não comentará”, disse sua assessoria
de imprensa, por escrito, em resposta a um questionamento da Folha.
Durante
sua live semanal nas redes sociais, nesta quinta (16), ao lado de
Alvim, o presidente Jair Bolsonaro havia elogiado o secretário: “depois
de décadas, agora temos sim um secretário de Cultura de verdade, que
atende o interesse da maioria da população brasileira”.
Em
entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta sexta (17), Roberto Alvim
pediu desculpas e chamou de “infeliz coincidência retórica” as
semelhanças entre a sua fala e aquela do ministro de Cultura de Hitler.
“Não se pode depreender daí qualquer associação ao espúrio, nefasto e
genocida ideário nazista, ao qual eu tenho repugnância”, disse.
Mais tarde, ele escreveu em sua página do Facebook que não tinha
noção da origem nazista de algumas de suas frases. “Se eu soubesse,
jamais a teria dito. Tenho profundo repúdio a qualquer regime
totalitário, e declaro minha absoluta repugnância ao regime nazista. Meu
posicionamento cristão jamais teria qualquer relação com assassinos…”
Na
mesma postagem, Alvim declara que o discurso foi redigido a partir de
várias ideias ligadas à arte nacionalista trazidas por assessores. Ele
ainda afirma que colocou o cargo à disposição do presidente Jair
Bolsonaro “com o objetivo de protegê-lo”.
Os pontos de encontro
entre os dois pronunciamentos são, no entanto, visíveis. No discurso
postado nas redes sociais, Alvim dizia: “A arte brasileira da próxima
década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de
envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que
profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então
não será nada.”
“A arte alemã da próxima década será heroica, será
ferramenta romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será
nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou
então não será nada”, disse o ministro de cultura e comunicação nazista
em 8 de maio de 1933 em um pronunciamento para diretores de teatro,
segundo o livro “Joseph Goebbels: uma Biografia”, de Peter Longerich,
publicado no Brasil pela Objetiva.
O ministro da Secretaria de
Governo, Luiz Ramos, telefonou para líderes do Congresso e avisou que o
porta-voz da Presidência, general Rego Barros, deve anunciar a demissão.